quinta-feira, 12 de agosto de 2010







A imprevisibilidade da noite desdenha a ordem superficial, 
o remanso da tarde e sua sensatez nuns olhares de esquinas. 
Sobre degraus insuspeitos tua voz amotina meu juízo e minha vontade. 
Tuas mãos despem meus pudores, me incita , me excita publicamente 
diante da fome atroz e urgente, me pega pela mão, pássaros úmidos de ansiedade, 
e me leva contigo por sobre os telhados. 
O que há em mim de felina pede teus dentes, teu poder, minha carne em tua boca, 
minha loucura em tua fúria, teus líquidos, meus fluídos,nossos segredos. 
Meu corpo sob tua medida ampla, de grandes ombros e abraços, 
não corre para não despertar o tempo, às elouqüentes do silêncio 
sussurrando salmos indecifráveis na ânsia de sossegar as línguas. 
São meus e teus, passos rápidos, desvios, rastros entre teus dedos, 
teus lábios impregnados pelo meu gosto e minha deliqüescência. 
Os minutos faiscantes estão à tona ,numa nova prenhez de inquietudes e presságios 
e se inauguram novos à inefável entrega, uma expectativa de olhos arregalados e cílios piscantes. 
Um passo ao infinito, a coxa enternecida, indecente refém voluntária do desejo 
na noite lânguida, ânsia e brasas, corredor e risco onde pressinto teu suspiro de animal rendido... 
e então já não basta saber provocações e vontades, saliva do beijo, cheiro do pescoço, 
calor das peles, suor quente, a textura dos teus relevos, a virilidade flagrante do teu desejo! 
Preciso-te em urgência e desespero, tuas pulsações e vertentes, do que rebenta e arrebata. 
Sugo teu gosto ácido, afago lascivo da língua, onde as possibilidades invadem fogo 
e derrubam o que encontram pela frente. ... 
Sou fêmea e ardências, minha vertigem dançando luminosa nos teus olhos estrelados... 
eu, invadida,intensa, impregnada dos teus líquidos...do nosso êxtase desmedido, 
que nos rompe e nos prova. ... 
Me atrevo a me deixar perder por completo e tu faz-se grande a ponto de perder-se em mim, 
afundar-me a carne latejante com teu desejo rijo e molhado da perdição da minha saliva, 
lambuzar-te vagarosamente, rapidamente, com fúria, impiedosamente entre minhas pernas,... 
pois do muito que me habitou nas noites de lembrar-te, de delinquescer nua, de lamber tua imagem, 
tramou-se o desconcertar das horas, o deliciar do instante que já se fazia em pensamento. 
perder-se !... perder o rumo o prumo e o norte , já que o mundo está demasiado longe agora 
e nada mais somos do que vontade, tesão, mundos colidindo, explosões múltiplas, 
um gozo sonoro, pulsante de estréia na ousadia do inédito, um frêmito que desembaraça por segundos, 
a espera...mergulhando fundo, inundando tudo, num instável trapézio de alívio 
e imediata fome que se refaz ainda maior. 
Não temos freios, temos partidas, não temos sossego, temos febres e ardores, 
um ninho vivo de flores escarlates e essência contagiante, compondo-se secretamente 
entre o enlaçar das pernas e teu sussurro ávido, morno, derramado em minha boca. 
Momento em que tu me olhavas como quem tenta decifrar um enigma à meia luz, 
momento tecido em fio claro, quase transparente, muito delicado, que eu terei costurado em meu avesso. ... 
Estar com você é rolar despenhadeiro abaixo, saltar em queda livre, um despencar de altura, 
um tremor de frio no centro do estômago... instante eternizado! 
...tua presença muda, absurda, concreta e absoluta... 
Fui feliz como são imensamente felizes aqueles para os quais basta saber-se ali, 
frente ao insondável mistério da completude, como são felizes os ignorantes,os ingênuos, 
as orquídeas. ... 
Sigo tendo em mim as digitais dos teus lábios, os pequenos passos dos teus dedos 
segurando meu rosto para deixar um beijo entre os últimos segundos que nos resta na noite. 
Tu sorris e é como se o impossível nos permeasse, como se o tempo soluçasse, 
como se a VIDA tropeçasse em nós e pedisse desculpas pelo inconveniente... 
porque teu sorriso é a confirmação e a negação absoluta de todas as minhas possibilidades... 
E o meu silêncio é o remanso que antecede a onda. 

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