quinta-feira, 12 de agosto de 2010



No fundo do poço que habita em mim, há sempre algo que quer ser arrancado. 
Palavras ou carpas cor de fogo, que se debatem nas águas como quem denuncia inquietude. 
Das antes, calmas nuances , agora turbulentas , emergem tentáculos de mistérios 
que perscrutam as paredes da alma diante dos rumores dos próprios desejos! 
Estes, que tantas vezes fingem sossegar, mas nos atormentam no exato momento 
em que mergulhamos para o rio interior, ou para lá somos lançados no desencadear de um gesto. 
Nadamos em busca de respostas diante do irreconciliável dilema. 
Existem razões ( ou seriam emoções ?! ) debaixo dessa tão aparente existência 
organizada, meticulosa, onde tecemos o tapete dos anos, horas, dias , segundos inescrutáveis ? 
Onde poucos de nós se arrisca no olho do furacão deixando-se por um momento flutuar numa 
onda de incerteza, que ao contrário das dúvidas febris, não incomoda, mas agita deliciosamente. 
Isso não significa deixar levar-se por um medo infundado, 
mas oferecer a si mesmo a oportunidade da mágica euforia que desentranha uns tesouros da carne 
e não se aquieta numa permanente e artificial espera. 
Espreitar pelas frestas das entrelinhas da vida me apetece muito mais à alma do que viver do razoável satisfatório. 
Não quero a carência de quem perambula sob escravidão cotidiana e silencia o crepitar das chamas 
na esperança de não arder ... prefiro os carvões em brasa , todos em meu colo, em minhas mãos , 
para que o meu coração se liberte! para que essa aparência de serenidade se descortine em êxtase 
e me ponha no peito um obstinado perfume de sol. 
Meus questionamentos são infinitos desvelos iluminando tudo ao meu redor! 
Muitos deles me cospem a face como sintomas de insanidade... 
Outros me acariciam os cabelos ou dançam nus sobre o fogo sem pressa de sentir a carne viva. 
São lucidez e loucura , razão e emoção ....universos tão incompatíveis onde um equilibra o outro 
e atravesso pontes de desafiadoras utopias numa terra de promessas. 
Onde a fome inadiável das indagações não encontra respostas que realmente satisfaça . 
Mas deseja liberdade e abrigo, segurança e delírio e somos náufragos de nós mesmos diante da inesperada vertigem.

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